A boa qualidade do sono uma das receitas para a longevidade
Por Carlos Araújo
Casados há 59 anos, os aposentados Angelo Euclides de Vidoto Tozi, de 81 anos, e Maria José Martins Tozi, de 82, moradores do Jardim Santa Bárbara, em Sorocaba, encontram na qualidade do sono uma das receitas para a longevidade. "Alimentação e descanso fazem parte da vida", diz Angelo. Também apela para o bom humor: "E dinheiro não dá vida para sempre, mas prolonga a vida."
Maria José vai dormir todos os dias às 22h ou 23h e se levanta entre 6h30 e 7h da manhã seguinte. Também acorda ao menos duas vezes na madrugada para tomar água. Angelo se recolhe ao quarto entre 23h30 e 24h e antes das 4h (entre 3h20 e 3h45) se levanta, faz café, consome uma laranja e vê o dia clarear. Após almoçar às 13h, ele volta ao quarto, dorme mais duas horas e meia a três horas e fica na cama até o início da noite. Maria José também se deita à tarde, mas diz que não consegue dormir nesse período do dia.
O casal se enquadra nos perfis das características do sono na terceira idade. Segundo o médico Hélio Mauro Silva Brasileiro, de 47 anos (CRM 80.768), na terceira idade ocorrem redução das horas de sono e também sua fragmentação, isto é, a pessoa desperta mais vezes durante a noite em comparação com os períodos da juventude.
Especialista em medicina do sono e diretor técnico do Instituto Brasileiro do Sono de Sorocaba, Hélio informa que, quando se estudam as doenças demenciais, como Alzheimer por exemplo, constata-se que o paciente que mantém uma qualidade de sono melhor tem um prognóstico também nesse sentido.
No seu exemplo, diferenças na qualidade do sono em dois pacientes com Alzheimer refletem na evolução da doença: "Um que tenha sono de excelente qualidade e outro que tenha o sonho de péssima qualidade: o de péssima qualidade vai tender a ter uma evolução pior do que aquele que tem sono de boa qualidade."
Isto significa, acrescenta, que "a qualidade do sono interfere na evolução da doença: quanto pior a qualidade do sono, pior a evolução da doença; quanto melhor a qualidade do sono, melhor a evolução (da doença)".
Horas dormidas
Desde o começo da vida, quando um recém-nascido dorme praticamente o dia inteiro, a quantidade de sono diminui. Segundo Hélio, em média, a necessidade de sono para um adulto saudável (na casa dos 20 aos 60 anos) varia de 7 a 9 horas diárias. A pessoa idosa, com mais de 60 anos, pode dormir 5 e 6 horas e isso ser suficiente. "É o ritmo (do indivíduo) que mudou, é uma mudança natural", explica Hélio.
Ele ensina que, quanto mais jovem a pessoa, mais necessário é o sono para que ele consiga o desenvolvimento do organismo como um todo -- principalmente o do sistema nervoso central, que comanda todos os outros órgãos. Na velhice, além de inexistir a necessidade do desenvolvimento do organismo nessa altura da vida, o indivíduo depara com outras doenças que interferem na qualidade do sono.
"Por exemplo, no homem o aumento da próstata o faz acordar mais vezes para urinar, apneia do sono o faz acordar mais", diz o médico. "E a mulher viúva ou aposentada, ou depois que os filhos saem de casa, tem mais tendência à depressão e isso dificulta o sono, gera insônia."
O médico lembra que habitualmente o idoso tende a ter o que é rotulado como "avanço de fase do sono", marcado pelo comportamento de dormir mais cedo e acordar mais cedo no dia seguinte. Em contrapartida, o adolescente tem o "atraso de fase do sono", que quer dizer o contrário: dormir mais tarde e acordar mais tarde.
Essas duas situações não são prejudiciais à saúde, informa Hélio, mas elas podem prejudicar a interação social ou entre pessoas. "Se for a mulher que dorme cedo e acorda cedo, vai gostar de fazer atividades matutinas", descreve. Nesse caso, se o marido dela tem comportamento contrário, gosta de atividades noturnas, quando está no auge da disposição, em total contradição com a característica da mulher.
Doenças do sono
"O sono é um mundo, tem um mundo de coisas envolvidas", avalia Hélio. E isso inclui as doenças do sono. Entre elas, destacam-se ronco, apneia, sonolência excessiva durante o dia, insônia, sonambulismo, pesadelos. O tratamento é amplo e individualizado. Envolve remédios, psicoterapia, cirurgia, mudanças de hábito, uso de aparelhos na boca e no nariz.
A forma de tratar pode corrigir o problema por meio de um procedimento ou levá-lo a remédios contínuos, como explica Hélio: "Um paciente que tenha depressão precisa tomar antidepressivo pelo resto da vida." E há casos em que uma cirurgia pode curar o paciente após a sua realização, como em situações de apneia e ronco.
Sonho lembrado é o mais recente
O sonho tem vínculos com outros aspectos do comportamento humano. O médico Hélio Mauro Silva Brasileiro afirma que quem desperta maior número de vezes durante a noite tende a dizer que sonha mais. Por exemplo, quem tem uma doença que leva a vários despertares vai dizer que passou a noite sonhando. Isso acontece, explica o médico, porque o indivíduo só vai lembrar do sonho que teve imediatamente antes de acordar.
Segundo Hélio, esse processo está vinculado a uma fase do descanso chamada sono "rem" (rapid eyes moviment), que reflete na movimentação dos olhos durante o sono. "O sonho é uma atividade neural que envolve memória e que ocorre durante o sono", ele decifra.
Entre os animais, Hélio diz que o sono dos mamíferos é bem semelhante ao do homem. Ele informa que o golfinho, que vive no fundo do mar, dorme com metade do cérebro e mantém acordada a outra metade, o que é instinto de autopreservação diante de predadores. Cães e gatos tendem a dormir de forma semelhante ao homem. E o cachorro segue o ritmo da casa onde vive.
Fonte: Jornal Cruzeiro
O estudo foi publicado na modalidade de acesso aberto no periódico Nature Communications.
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