“Você e tão velho quanto se sente”, ensina um ditado popular alemão.
Por Fátima Lacerda
Leopold Kuchwale, vulgo Leo, segue, com disciplina prussiana o ensinamento do ditado popular.
O professor natação mais idoso da Alemanha (e provavelmente do mundo) nasceu em 18 de abril de 1917, no bairro de Charlottenburg. Seu pai era austríaco e trabalhava como cozinheiro em Berlim, onde se apaixonou por uma alemã. Leo, como carinhosamente chamado pelos colegas e alunos, tem filhos, mas não tem netos, diz gostar do “contato com a garotada jovem”.
O tabloide Bild titulou uma matéria sobre “Leo”: “O herói mais idoso de Berlim”.
Dieter & Dieter
Há dois anos sua esposa Hildegard, companheira de 78 anos, faleceu, depois passar os últimos dois anos de vida em uma Casa de Idosos. Ela sofria de reumatismo e demência. Leopoldo a visitava todos os dias.
Em entrevista a imprensa berlinense (no qual ele se tornou uma constante e bem-vinda pauta), ele comenta que depois da morte de Hildegard, havia perdido a motivação, teria questionado a vida. Foram seus amigos Dieter (69) & Dieter (79) que o “tiraram do buraco” e o convenceram voltar para a natação, afirmando: “As crianças precisam de você”. Em tom de autoironia Leopold acrescenta: “Eu só tenho esses dois (amigos). O resto todo já morreu”.
Em vídeo feito pela imprensa alemã, o simpático berlinense, quase sem graça, declara: “Hoje foi somente um aluno”, esse que terá se eternizado na “aula particular”. Mudando o timbre de voz, agora com um certo orgulho, Leopold, completa: “Mas geralmente são 12 crianças aqui” (na piscina) explica, enquanto faz um apanhando visual pela piscina.
A equipe da Cruz Vermelha, do qual Leopold é membro há 33 anos, oferece aulas de natação no Centro de Saúde “Primavita” no bairro de Zehlendorf (sul da cidade) toma precauções de segurança. Enquanto o professor mais fofo de Berlim nada com a garotada e que segundo o próprio diz que “alguns da até pra colocar debaixo do braço, uma equipe de jovens professores de natação fica de olho na borda da piscina. O professor de natação mais idoso da Alemanha já sofreu um infarto do miocárdio e tem que tomar 6 comprimidos por dia.
O vídeo veiculado pela Cruz Vermelha Alemã (Deutsches Rotes Kreuz), além de instigar adultos e crianças em se inscreverem para o curso de natação, mostra também o foco de interesse midiático que o simpático Leo, se tornou.
Para entrar na piscina ele prefere não usar a escada. “É muito complicado”, explica.
Fora da água os ossos do simpático berlinenses de raízes eslavas não vão muito bem. Ele entra na piscina mergulhando. Primeiro a cabeça, depois o corpo magro junto com a pele marcada pela idade. Depois de atingir 1,40 cm de profundidade, ele volta a superfície, tira o cabelo branco dos olhos e ironiza para a repórter do jornal Berliner Kurier: “Entrar, você sempre consegue”. Os colegas à beira da piscina, se mostram aliviados.
Todas as quintas e sextas-feiras, Leopold sai de casa, toma dois ônibus para chegar à piscina do “Primavita”, que também oferece um arsenal de cursos para o equilíbrio da saúde física e mental. As vezes, sua filha o leva, conta ele.
Depois da morte de sua esposa Hildegard, ele continua morando sozinho, mas tem seu filho vizinho quase de porta.
A ternura, alinhava de uma autenticidade e simplicidade contagiantes, encanta as crianças, além de ter tornado “Leo” um herói berlinense e uma constante pauta da imprensa alemã. O exemplo de atividade social, engajamento na velhice adiantada (para dizer ao mínimo), mas também a postura digna, somado a um discurso pé no chão deve ser ainda mais lição para a garotada do que “somente” aprender a nadar.
Fonte: Estadão
O estudo foi publicado na modalidade de acesso aberto no periódico Nature Communications.
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