Ajudar nossos pais a tomar decisões financeiras é o melhor exercício para sua própria velhice
Por Sofía Macías
Aquele ditado “mais sabe o diabo por ser velho que por ser diabo” funciona para muitas coisas, mas encontrou uma exceção na educação financeira. De acordo com a pesquisa Gallup sobre capacidade financeira, os conhecimentos nessa área funcionam como uma figura ovalada: os jovens têm baixa educação financeira, esta alcança seu melhor ponto entre os 36 e 50 anos, e a partir dos 51 anos segue trajetória descendente.
Isso é preocupante porque nos indica que é altamente possível que tenhamos poucos conhecimentos ao tomar nossas primeiras decisões financeiras – poupar quando temos o primeiro trabalho, como usar nosso cartão de crédito, escolher a primeira hipoteca. Mas, ainda que tenhamos aprendido algo na etapa adulta e consigamos formar patrimônio, estará em risco quando tivermos de dispor dele sendo idosos.
Nos Estados Unidos, 20% dos idosos fizeram investimentos inadequados para sua situação financeira ou com comissões mais altas do que as que deveriam ter por produtos similares, segundo dados do livro Pound Foolish: Exposing the Dark Side of The Personal Finance Industry, de Helaine Olen, que trata dos conflitos de interesse dos gurus das finanças pessoais nos Estados Unidos e as más práticas da indústria financeira em geral.
E isso não acontece só nos Estados Unidos. Na Espanha os mais prejudicados no trato também foram os idosos e na América Latina chega a haver fraudes com cadernetas de poupança, falsas instituições financeiras, esquemas de pirâmide ou casos em que dão créditos a pessoas da terceira idade que não necessitam deles, e até mesmo chegam a lhes levar os documentos em domicílio.
Está claro que além do cuidado afetivo e de saúde que possamos ter com nossos pais também se abre um novo ramo: o financeiro. Para isto, é necessário mais abertura para falar desses assuntos em família, e certamente para que nossa situação financeira melhore. Se não, estaremos prestando um desserviço.
Se a OCDE e a pesquisa Gallup não estão enganados, até uma vida inteira de poupança e prudência financeira não basta se na etapa mais crucial – quando talvez já não haja possibilidade de repor esse patrimônio – tomamos más decisões ou deixamos de prestar atenção ao dinheiro.
Isto também é uma advertência para nós: que decisões podemos tomar que nos protejam quando nossos conhecimentos financeiros diminuírem? O que temos de aprender agora para não cair em fraudes depois? Como podemos cobrir nossos riscos? Como queremos viver durante a aposentadoria (incluindo se a residência está adaptada a uma pessoa idosa e que ocupações poderemos ter)?
Na América Latina isso dos países de velhos nos parece uma curiosidade europeia, mas já não somos tão jovens como acreditávamos: a partir de 2035 se acelerará nosso processo de envelhecimento demográfico, e isto nos levará de populações com apenas 7% de idosos (o porcentual atual) a 14%, com todas as implicações de saúde, custo de vida e dinâmica econômica envolvidas.
Talvez começar por ajudar nossos pais a tomar melhores decisões financeiras e evitar que caiam em fraudes seja o melhor exercício para reduzir o risco do que pode acontecer conosco quando tivermos sua idade.
Sofía Macías é especialista em educação financeira, jornalista de finanças e autora da série de best-sellers Pequeño Cerdo Capitalista (Pequeno Porco Capitalista), com versões para o México, Espanha e Itália. Pode ser encontrada no Twitter como @PeqCerdoCap e no site www.pequenocerdocapitalista.com
Fonte: El País
O estudo foi publicado na modalidade de acesso aberto no periódico Nature Communications.
Veja a influência da saúde bucal na qualidade de vida da terceira idade
Cada vez mais as águas termais são recomendadas por médicos para tratamento de saúde. Na Europa Termalismo é u...