Atriz está escalada para ‘A força do querer’, novela das 21h
POR ZEAN BRAVO
RIO - Escalada para “A força do querer”, novela das 21h da Globo, escrita por Gloria Perez, Betty Faria diz que não pisará na areia e solta um “nem f...” para encerrar a questão quando o fotógrafo do GLOBO sugere que ela pose à beira-mar. A atriz prefere ser fotografada no quiosque da orla do Leblon onde marcou o encontro com a equipe do jornal. Ela explica que evita caminhar na areia depois que operou os joelhos, nos últimos dois anos. Além disso, justifica, não está vestida apropriadamente (usa uma calça branca e tênis de couro).
Perto de completar 76 anos (no dia 8), Betty diz já ter agido como um trator (“para sobreviver na selva”). E conta que a maturidade a transformou numa “florzinha”. Na entrevista, se emociona ao falar sobre “Tieta” (1989), novela que o Viva reprisa a partir de amanhã, às 15h30m e à 0h30m. Ainda ao longo da conversa, Betty conta ter sido assediada em diferentes ocasiões. Mas se mantém firme ao defender José Mayer, seu par em “Tieta, de Aguinaldo Silva, trama adaptada do livro de Jorge Amado. Acusado de assédio sexual pela figurinista Su Tonani, Mayer escreveu uma carta aberta no início do mês pedindo desculpas pelo episódio. A seguir, leia os principais trechos da entrevista com Betty:
Qual é o seu papel em “A força do querer?
A Gloria (Perez) me reservou, e ainda não posso falar. Não sei quando entro na novela, mas confio nela e estou disponível. Adoro trabalhar.
O que a novela “Tieta” representa para você?
Acho que vou chorar muito ao rever a novela. Foi um trabalho importante. Em Portugal já passou três vezes, eu não podia sair do hotel. No México também passou três vezes. Uma vez estava num teatro da Broadway, e uma família do México ficou louca quando me reconheceu. Também viajei para a Europa para promover “Tieta”.
Como você ganhou Tieta?
Quem me deu o papel de Tieta foi Zélia Gattai (1916-2008). Estive com ela e Jorge Amado (1912-2001), em Londres, quando ele escrevia o livro, nos anos 1970. Mais tarde, negociei os direitos e trouxe para a Globo.
Tieta foi expulsa de casa e voltou rica 25 anos depois. É uma protagonista que enriqueceu com a prostituição, numa trama de temática adulta. Como a novela seria recebida se fosse produzida hoje?
Tieta não era vendida como prostituta, não existia esse rótulo. Ela não era do núcleo de prostitutas da novela. Voltava rica, bem de vida. Não se sabia como ganhou dinheiro. Não foi rodando bolsinha na esquina que ela ficou rica daquele jeito. Era subentendido.
O público das novelas está mais conservador? Em 2015 parte dos telespectadores rejeitou o beijo de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em “Babilônia”...
Porque elas são velhas. Se fossem duas moças, os homens todos iriam morrer de tesão.
Há preconceito com a velhice? Em 2013 você foi vítima de comentários ofensivos na internet por ter ido à praia de biquíni, aos 72 anos...
Eu não uso a frase “sofri preconceito” porque é lamuriosa. Acho chato quem se coloca como vítima de preconceito. Na vida você passa adversidades. Esse mimimi de “sofri preconceito” é um saco (risos). Transformo o veneno em remédio.
As pessoas falam coisas ofensivas nas ruas para você?
As pessoas falam de tudo! Estou no ramo há 55 anos. Mas eu me incomodo mesmo é quando não gostam do meu trabalho. Para os que falam “olha a bunda dela”, eu não tô nem aí!
Como foi deixar o cabelo branco numa sociedade que valoriza a eterna juventude?
É um ato político. É normal ter esse cabelo na minha idade. Os artistas da minha geração estão com o cabelo dessa cor. Caetano Veloso, Antonio Fagundes... Quero estar bem para a minha idade. Não vou sair de minissaia, seria ridículo. Já vivi o período minissaia, o período (de posar para a) “Playboy”. Vivi intensamente todas as fases. Não estou ressentida. Não vou botar vestido lascado para aparecer a perna. Fica decadente.
Você se ressente por não ser chamada para os papéis de protagonista?
Protagonista jovem tem que dar para a Isis (Valverde), uma estrela de 20 e poucos anos que trepa na árvore, faz curso de apneia e fica debaixo d’água por quatro minutos dando tchau e mandando beijinho. Fico cansada só de pensar (risos). Já fiz muitos personagens principais. Imagina eu, agora fazendo a avó das sereinhas? Tá louco! Tá tudo certo assim.
Qual a sua opinião sobre o feminismo hoje?
Tem que tomar muito cuidado. Nem todas as mulheres são fofinhas, boazinhas, bonitinhas e queridinhas. Sabe o que acontece? Sou mãe de homem e não gostaria de ver meu filho acusado injustamente de assédio. Ia procurar saber direitinho como a história foi contada. Aliás, você vai falar sobre o Zé Mayer? A gente sabe que vai rolar, ele é meu par em “Tieta”, e viemos aqui falar da novela.
O que tem a dizer sobre ele?
Zé Mayer sempre foi um gentleman, respeitador. Só tenho elogios. Depois do (José) Wilker (1944-2014), foi o ator com quem mais contracenei. Passamos por situações constrangedoras. Somos do tempo em que não havia ônibus-camarim, a gente trocava de roupa numa Kombi. Já filmamos numa boate em Caxias, e eu fazia pipi na lata de Nescau e pedia: “Zé, olha pra lá”.
Mas o próprio José Mayer escreveu uma carta se desculpando após o episódio...
Não quero discutir o que ele fez ou escreveu. Ele deve ter tido seus motivos. Conhecendo o Zé dos bastidores, acho essa história mal contada.
Você já foi assediada?
Eu já sofri assédio, isso tudo que as mulheres estão sofrendo, mas não fiquei de mimimi. Resolvi meus problemas. Não quero falar, mas cada caso resolvi de um jeito. Se for falar tudo por que passei daria um livro. Imagina o que não passou uma pessoa razoavelmente bonitona, razoavelmente gostosona, durante 55 anos de carreira! Foram muitos casos. Não estou falando de um capítulo, daria um livro inteiro: “caso 1”, caso 2”. Imagina! Tive uns bizarros, mas sobrevivi.
Você se considera uma mulher forte?
Gosto de estudar a psicologia dos personagens. Se não fosse atriz teria feito psicanálise. O ser humano sempre me interessou. Só os fortes sobrevivem. Veja a Tieta, expulsa de casa jovem. Eu também me considero uma pessoa forte. Agora virei uma florzinha, as coisas hoje me batem de uma maneira que nunca imaginei. Fico sensível, doente. Eu era um trator. Ou foi um personagem que vesti para sobreviver na selva. Eu não sou mais essa mulher forte.
Fonte: O GLOBO
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