Toda mulher pode ser empoderada e ter autoestima aos 70 anos

“Avó, mãe, esposa e profissional. Provando que beleza e estilo não têm idade. Modernidade e sofisticação andam de mãos dadas”.

03/11/2019

Sorriso de orelha a orelha, bem vestida, maquiagem para embelezar e discursos de empoderamento e autoestima. Parece a descrição de uma blogueira, certo? E, é. Uma blogueira que está prestes a completar 70 anos de idade. Após enfrentar um câncer, Sueli Rodrigues trouxe a público, pelas redes sociais, relatos de alguém que é feliz e saudável e que quer fazer de sua experiência um exemplo para outras mulheres.

“Avó, mãe, esposa e profissional. Provando que beleza e estilo não têm idade. Modernidade e sofisticação andam de mãos dadas”. Essa é a descrição no perfil da Sueli, hoje com mais de 30 mil seguidores ou “seguimores”, como ela diz. E é para estas pessoas que ela escreve sobre suas experiências. A mais desafiadora e recente foi o câncer no estômago, há dois anos.

Depois de ganhar um check-up de presente da filha, ela descobriu a doença e começou o tratamento. Ela conta que viveu momentos difíceis, especialmente durante a quimioterapia. Mas venceu, “porque sempre teve pensamento positivo”. “Eu parti para luta. Eu não reclamei nunca. Eu acho que se você tem alguma coisa, não adianta dizer ‘ai, meu Deus, estou com câncer’. Você tem que fazer alguma coisa para dizer um dia ‘eu já tive câncer”, ressalta.

Do câncer ao Blog
Sueli, que já era bem magra, chegou a perder mais de 10 quilos durante o tratamento. Ela se sentiu mal com aquilo e resolver agir. Criou o perfil nas redes sociais, depois de sugestão de uma amiga. Conquistou o público com fotos de moda e textos animadores. “Sem filtro, mas é para lembrar vocês de usarem filtro solar! Elegante é se cuidar”, diz uma das postagens.

O grande detalhe é que o @blogdasu70 tem pouco mais de um mês. Questionada sobre o sucesso, ela responde. “As pessoas querem ver quem enfrenta as coisas com alegria. É por isso que bombou [o perfil]”. Sobre os desafios de conseguir empoderar-se na terceira idade, Sueli é categórica: “Eu não tento mostrar mais do que eu sou. Eu digo que não há necessidade de enfrentar nada. O empoderamento é você quem faz. Não me prendo às regras. Eu faço as minhas regras. É isso que falta nas mulheres. É saber onde ela quer chegar e saber o que fica bem para ela”, avalia.

Sueli também credita o sucesso ao esposo, Edson Rodrigues. “Tenho um companheiro que me apoia em tudo, que me ajuda. Foi este companheiro que escolhi porque sei que ele não me podaria. Eu nasci com asas e ninguém vai podá-las. Quem quiser me acompanhar, tem que voar junto comigo o resto da vida”, afirma.

Aos 69 anos e iniciando a carreira de blogueira, Sueli conta como cuida da saúde. “Hoje eu me considero melhor do que aos 40 anos. Sou uma mulher que vive bem, adoro o céu, flores, estrada. No dia a dia, eu adoro caminhar. Isso me fortalece toda. Na alimentação, eu como o que me dá prazer, escolhendo sempre uma carne magra, um bacon de vez em quando, muita fruta e muita verdura. E a consulta com médico de vez em quando”, conta.

Divertida e segura, Sueli tem um recado a todas as mulheres. “Minhas amigas de 20, 30, 40, 50, 100 anos, vamos viver. Vamos nos amar. Vamos procurar em nós aquilo que temos de melhor. Claro que depois de uma certa idade aparecem dores, mas vamos procurar nos cuidar. O que quero é que vocês vivam, enquanto a gente estiver aqui, que a gente tenha olhos para a vida”, finaliza.

Su 1Valorização da mulher idosa
A coordenadora de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, Cristina Hoffmann, conta que são muitos os desafios que as idosas encontram no cotidiano. “Um deles é a pressão de uma sociedade que supervaloriza a juventude, o corpo, a aparência e a moda. Isso pode levar a um sentimento de tristeza e ansiedade. Algumas limitações vão aparecendo à medida que envelhecemos, e isso acaba por refletir na saúde da mulher idosa. Quando uma mulher de 60 anos diz que quer sair no Carnaval com fantasia, muitas pessoas podem cobrar ou questionar”, ressalta.

Apesar da expectativa de vida estar crescendo, isso não significa que ela esteja acompanhada de qualidade de vida. “A gente não vê muita discussão na sociedade que inclua os idosos, especialmente as mulheres. A grande virada, principalmente na saúde, será quando todos os profissionais tiverem um olhar de atenção integral. Reconhecer que são vários os aspectos na vida daquela mulher que podem e irão refletir na sua condição de saúde e autoestima”, destaca a coordenadora.

Para Cristina Hoffmann, o Sistema Único de Saúde (SUS) precisa se preparar cada vez mais para ofertar uma atenção integral às idosas. Os profissionais devem conhecer detalhes das relações familiares, os ambientes que frequentam e até a situação financeira, por exemplo.

“Às vezes, os profissionais podem ofertar o melhor tratamento, a melhor tecnologia e não ter um resultado esperado, se não considerarem diferentes aspectos da vida da pessoa. Às vezes, o necessário é um acolhimento, uma escuta qualificada, um olhar diferenciado e de uma estratégia diferente, que reconheça as especificidades do processo de envelhecer. Por isso, é importante a capacitação dos profissionais, a troca de experiências. Que os serviços de saúde estejam preparados com este olhar diferenciado para a construção de um SUS cada vez mais acessível e humanizado”, finaliza.

Erika Braz, para o Blog da Saúde

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