Série e documentário mostram a arte de envelhecer sob a ótica de dois ícones
Michael Douglas já foi conhecido como uma espécie de locomotiva sexual, tendo inclusive assumido que se internou para tratar da compulsão pelo sexo. Na década de 1980, filmes como “Atração fatal”, no qual vivia um caso com uma psicopata interpretada por Glenn Close, e “Wall Street”, onde interpretou o inescrupuloso Gordon Gekko, o alçaram ao Olimpo das celebridades. Em 2010, um câncer na língua em estágio avançado o deixou fora de circulação e seu casamento com a atriz Catherine Zeta-Jones balançou forte, mas resistiu. O tempo passa, os anos pesam, mas ele se reinventou com graça, e boa uma dose de amargura, na série “O método Kominsky”, disponível na Netflix. Douglas tem hoje 74 anos e contracena com Alan Arkin, de 84.
Michael Douglas e Alan Arkin: amigos rabugentos com a velhice — Foto: Divulgação
Eles são, respectivamente, Sandy Kominsky, ex-ator que experimentou algum sucesso e mantém um curso de interpretação, e seu agente, Norman Newlander. Nem Hollywood escapa dos problemas da velhice: Newlander acabou de perder a mulher, com quem era casado há mais de 40 anos, para um câncer; há um episódio dedicado às mazelas da próstata idosa; mas também há romance, mostrando que a vida sempre oferece possibilidades. Acima de tudo, há uma amizade meio rabugenta que une esses dois homens e faz com que sigam em frente. Os oito episódios são curtos, com cerca de 30 minutos de duração.
Jane Fonda: documentário narra a trajetória da atriz em cinco atos — Foto: Divulgação
Jane Fonda completará 81 anos no próximo dia 21. Embora festejada como um ícone da indústria cinematográfica, sua trajetória vai muito além disso e o documentário “Jane Fonda em cinco atos” mostra que talvez seja uma das mulheres mais instigantes do século 20. Dirigido por Susan Lacy, o filme está disponível no canal HBO, depois de passar pelos festivais de Cannes e Sundance. Logo na abertura, ouve-se trecho de gravação do presidente Richard Nixon referindo-se à atriz: “o que há de errado com ela?”. Na época, sua militância contra a Guerra do Vietnã lhe rendeu o apelido de Hanói Jane, por ter visitado a capital do Vietnã do Norte em 1972, e muitos inimigos.
O documentário é dividido em cinco atos, os quatro primeiros batizados com os nomes dos homens mais importantes de sua vida: Henry Fonda, seu pai; e, sucessivamente, os maridos Roger Vadim, cineasta francês; Tom Hayden, ativista e político; e Ted Turner, o bilionário criador da rede CNN. Figuras masculinas foram determinantes para construção da sua personalidade, mas os méritos de ter se tornado quem é são seus – e nada mais justo que a última parte se chame “Jane”. Saboreando a maturidade e o longo processo de autoconhecimento, afirma: “eu era tão velha quando tinha 20 anos! Tão triste, tão sombria, sem imaginar um futuro para mim”.
Hanói Jane: militância contra a Guerra do Vietnã rendeu apelido e inimigos — Foto: Divulgação
Ela sobreviveu ao suicídio da mãe e à distância do pai. À bulimia e à anorexia. Ao rótulo de símbolo sexual quando estrelou o filme “Barbarella”. Não se tornou refém das engrenagens de Hollywood e, para financiar sua militância política, lançou vídeos de malhação que mudaram o perfil do planeta. Foram 17 milhões de cópias vendidas e, provavelmente, a maior contribuição para a onda fitness que tomou conta do mundo. O sucesso nessa empreitada, que incluiu um livro sobre seus exercícios que ficou dois anos na lista de mais vendidos do “The New York Times”, lhe deu independência para produzir seus filmes e tratar de temas como o risco da energia nuclear (“A síndrome da China”) e os direitos das mulheres (“Como matar seu chefe”). No fim, revela que se arrepende de ter feito plástica, porque admira as marcas da velhice, e ensina: “tentar ser perfeito é uma jornada tóxica”.
Por Mariza Tavares
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