Contra depressão, Rosângela superou a morte do filho jogando vôlei aos 63 anos

Na contramão do sofrimento, o esporte virou uma aliado para conseguir a felicidade

13/07/2017

Por Thailla Torres

A disposição na quadra anuncia que hoje na vida de Rosângela Ferreira Monteiro, de 63 anos, não há espaço para tristeza. E olha que ela enfrentou uma das piores dores em 1992, quando perdeu quatro pessoas da família em um acidente de carro em São Paulo. Entre as vítimas, o filho mais novo de apenas 14 anos, que morreu na hora. Na contramão do sofrimento, quando ela esteve diante da depressão, decidiu superar a perda com a retomada do esporte em sua vida.

Animada, ela é uma das mais dispostas na quadra. Grita, incentiva, torce e se despede renovada a cada partida. É assim há três anos, desde que voltou para as quadras.

O esporte sempre foi um aliado na vida da campo-grandense. Rosângela começou no vôlei aos 14 anos por incentivo da família. O avô era corredor de rua, o tio é corredor amador até hoje e os primos também conheciam o vôlei. Uma das tias passou a ser sua treinadora e a rotina de esporte virou instinto de sobrevivência, recorda.

"Estudei em várias escolas de campo grande por conta do vôlei, fui a pelo menos três jogos estudantis brasileiro, era igual menino esperançoso na rua. Calçava meu tênis no fim de semana e ficava esperando alguém me buscar para treinar, já que naquele tempo não tinha celular", lembra.

Mas a chegada do casamento aos 21 anos, obrigou ela a despedir das quadras. Conservador e ciumento, o marido proibiu ela de jogar e trabalhar na época. "Depois disso que nem assistia torneio de vôlei da seleção brasileira, porque ele não gostava. Os tempos eram outros, a gente acaba acatando muita coisa e eu passei a me dedicar a família", afirma.

Esse é o filho Cleber que faleceu aos 14 anos de idade. (Foto: Arquivo Pessoal)Mas era 16 de janeiro de 1992, o momento mais triste. Naquela tarde, dentro de casa, ela recebeu a notícia que um acidente de carro havia levado para sempre o filho caçula em São Paulo. "Foi um acidente na Rodovia Presidente Dutra. Minha prima imbicou o carro para entrar na avenida, quando um caminhão desgovernado atingiu o veículo. Perdi além do meu filho", conta.

No veículo além de Cleber, o filho mais novo, estava uma prima, um sobrinho e filho mais velho de Rosângela, o único que sobreviveu a tragédia. Mas no momento em que a família recebeu a notícia, a mãe de Rosângela foi até o local do acidente e sofreu com a descoberta que a família havia morrido.

"Ela chegou na hora, viu os documentos dos meninos e sofreu um derrame hemorrágico fulminante. Foi a cena mais triste e o momento mais doloroso na minha vida. Eu fiquei sabendo às 17h e meia-noite eu estava em São Paulo", descreve.

Pensar naquele dia faz Rosângela lembrar de uma dor imensurável. "Só quem perde um filho entende a dor que eu falo. Depois da morte dele, ainda passei 27 dias cuidando do meu filho mais velho entre a vida e a morte no hospital. Mas graças a Deus ele sobreviveu". 

Embora tenha sofrido tanto, naquele ano, um pedido a confortou. "Estava prestes a entrar definitivamente em uma depressão, mas eu não queria e sabia que tinha uma família para cuidar. Então eu pedi ao meu marido para voltar a jogar vôlei. Ele vendo o meu sofrimento me deu todo apoio". 

Tanto tempo longe das quadras, ela voltou com o mesmo entusiamo, mas um cansaço repentino trouxe uma surpresa na vida. "Eu estava com 40 anos e me sentia muito cansada nas quadras. Decidi ir ao médico e advinha? Descobri que estava grávida novamente e acabei deixando o vôlei de novo". 

A chegada de um novo filho, ela não nega, trouxe o sorriso e a alegria aos dias da família. "Era mais uma criança iluminada e amada em nosso dia a dia. Fiquei imensamente feliz, hoje ela está com 23 anos", comemora.

Mas depois de ficar viúva em 2006, Rosângela sabia que precisava buscar um novo caminho. "Aos 60 anos decidi voltar para o vôlei após 40 anos sem jogar rotineiramente. Mas eu sabia que ia dar conta e voltei, foi a melhor coisa que podia ter feito na vida", reconhece.

Ela treina todos os dias da semana. Participa de um projeto da terceira idade no Sesc e na Universidade Católica Dom Bosco. Hoje, ao lado de outros idosos, Rosângela fez amigos e uma nova família, que ajudou no recomeço da vida.

"Me sinto com 40 anos na quadra. Foi um recomeço, a volta de uma alegria, porque eu gosto de baile, gosto de dançar e de estar em contato com as pessoas. Hoje posso afirmar que o vôlei é meu porto seguro e minha qualidade de vida. Tenho apoio de toda minha família e se não fosse o esporte, não sei como estaria minha saúde hoje".

Fonte: Campo Grande News

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