Ennio Morricone conta como é estar em turnê aos 88 anos: 'Gosto de ouvir minha música e ver a reação do público'

Um dos compositores mais famosos e amados da história do cinema mantém a criatividade e a lucidez.

10/07/2017

Por France Presse

Aos 88 anos, Ennio Morricone, um dos compositores mais famosos e amados da história do cinema, mantém a criatividade e a lucidez. Com uma grande turnê programada, ele deseja, como confessou à agência France Presse, surpreender o público.

"Pediram que eu conduzisse minha música. Mas eu não sou um verdadeiro maestro de orquestra, não dirijo a música de outros compositores. A verdade é que gosto de ouvir minha música e ver a reação do público", explicou em seu estúdio em Roma.

Depois de um grande concerto nesta sexta-feira na capital italiana, parte de uma turnê mundial iniciada ano passado para celebrar 60 anos de carreira, "o maestro", como é chamado em seu país, tem várias apresentações programadas na Europa nos próximos meses.

"No cinema não é possível ouvir com atenção a música, pelos diálogos, ruídos, efeitos especiais, tudo isso distrai as pessoas. A música deve ser ouvida. Os concertos permitem ao público escutar minha música, apenas minha música", afirma.

Segredos e piadas
O compositor de mais 500 trilhas sonoras, reconhecido por melodias únicas como o assobio de "Três Homens em Conflito" (também conhecido como "O Bom, o Mau e o Feio", de 1966) ou o magnífico solo de oboé de "A Missão" (1986), é sobretudo um senhor simpático e disponível, que conta piadas e segredos com o mesmo ritmo musical de suas composições.

"A música de "A Missão" nasceu de uma obrigação. Eu tinha que escrever um solo de oboé, se passava na América do Sul no século XVI e eu tinha que respeitar o tipo de música do período. Ao mesmo tempo, tinha que escrever uma música que também representasse os índios da região. Todas as obrigações me prenderam (...) Mas também fizeram com que saísse algo claro", conta.

O autor de músicas de filmes de gêneros diversos (romances, políticos, de temática social, suspenses e, naturalmente, western) sorri quando é comparado a compositores clássicos do porte de Rossini ou Mozart, também muito prolíficos.

"O fato de ter sido capaz de compor música com total liberdade, e tão diversas, foi possível não apenas porque tinha a técnica, mas porque era necessário que eu mudasse a cada vez meu estilo de composição. O filme exigia. Me acostumava, cada vez ficava diferente", explica.
Morricone reconhece que as trilhas para o cinema são mais fáceis, pegajosas, na comparação com algumas das 100 peças de câmara ou contemporâneas que escreveu.

Entre seus autores preferidos figuram Stockhausen, Boulez, Luigi Nonno, Aldo Clementi, Petrassi, "meu mestre", diz, assim como Stravinsky, Bach, Palestrina Monteverdi. "Sinto que esqueço alguns nomes, mas eles, conscientemente ou não, deixaram a marca", admite.
O compositor, que trabalhou com os grandes cineastas e produtores de Hollywood, Huston, Siegel, Polanski, Fuller, além de Leone, Pasolini, Bertolucci, Argento, Pontecorvo e Almodóvar, é de fato um artista emblemático do século XX, que deve seu sucesso sobretudo à sábia combinação de imagem com melodia.

Qual a receita?
"Não há receita, para nada. Tentei muitas receitas. Tentei inventar uma maneira de escrever música melódica repleta de pausas. Quase monossílabos ou três sílabas juntas e depois uma pausa. Como um pensamento que vai e volta, que se repete de forma diferente. Sempre quis mudar, mas no final sempre pareço comigo mesmo".

Fonte: G1

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