Aos 75 anos, os últimos 20 dedicados à natação, professora aposentada encontra alegria nos treinos diários, nas viagens para as competições de másters e no convívio com os amigos que fez nadando
Por Renata Domingues, Rio de Janeiro
Que praticar esportes aumenta e muito as chances de uma vida longa e saudável, não é segredo para ninguém. Mas imagina chegar aos 70, 80, 90 anos competindo em alto nível, colecionando medalhas e troféus e fazendo inveja a muitos jovens por aí? Impossível? Não! Essa é a realidade de vários senhores e senhoras que fazem bonito nas piscinas do Brasil e do mundo. Não são ex-atletas profissionais. Pelo contrário. São pessoas que trabalharam a vida inteira e encontraram nas braçadas e pernadas uma forma de se manterem ativos e, principalmente, felizes após a aposentadoria.
É o caso de Herilene de Freitas. Aos 75 anos, ela nadava quando criança. Mas foi somente aos 55 anos que a ex-professora de português e inglês e diretora de escola mergulhou de cabeça na natação.
- Quando me aposentei, pensei: “O que vou fazer agora?” E decidi nadar. Comecei, gostei e não parei mais. O ambiente da natação máster é muito bom. A gente encontra amigos. Alguns só participam, outros são competitivos - contou.
E Herilene está entre os másters competitivos. Tanto que, além das mais de 1200 medalhas, coleciona seis recordes sul-americanos em sua categoria (75+), entre eles, os 400m e 200m medley e os 200m borboleta, que são consideradas as provas mais difíceis pelos nadadores. E os tempos dela são impensáveis para muitas meninas. Por exemplo, nos 200m medley em piscina de 50m, Herilene tem 4’07’’51. O recorde sul-americano profissional é de Joanna Maranhão, que, com 30 anos, poderia ser neta de Herilene: 2’12.
- Nado quase todos os dias, de segunda a sexta - diz ela.
O segredo de tanta disposição? Ela não sabe. Só se enche de orgulho para dizer que a saúde vai muito bem, obrigada.
- Natação é a melhor coisa que tem para a saúde. Não tenho nada! Nado porque gosto mesmo. Talvez se eu não nadasse minha saúde não fosse tão boa. O único remédio que tomo é um de 25mg para a pressão.
E, de acordo com o nosso treinador e colunista Gustavo Luz, Herilene está mesmo no caminho certo da longevidade. Ele lembra que manter-se competitivo é saudável e ressalta que a natação é um dos esportes mais indicados na terceira idade por não ter impacto sobre as articulações.
- Praticar atividade física adequada na terceira idade é sinônimo de manutenção da saúde. A natação pode ser uma excelente opção, pois trabalha uma variedade de grupos musculares com pouco ou nenhum impacto.
Mas claro que muito do talento de Herilene pode estar em sua genética. Ela é sobrinha de Heleno de Freitas, que fez história com a camisa do Botafogo, e prima de Bebeto de Freitas, ex-presidente do clube alvinegro e ex-jogador e treinador de vôlei.
- Na minha família todo mundo gosta de esporte - disse ela, que tinha no marido, com quem ficou casada por 40 anos, o seu fã e incentivador número 1.
O próximo desafio dessa supermáster será no Mundial de Budapeste. Em agosto, ela embarca para tentar novos recordes e fazer bonito em águas internacionais. Mas para isso gasta dinheiro do próprio bolso. Herilene conta que competir como máster é também um grande investimento no amor que tem pela natação.
- Não temos ajuda de ninguém, tudo é por nossa conta. Nós que aguentamos a barra monetária. Não é fácil - lamenta.
Mas não há dúvida de que todo esforço vale a pena. Esforço que a menina que começou a nadar com cinco anos em uma pequena piscina da cidade mineira São João Nepomuceno sequer poderia sonhar estar fazendo tão bem tantos anos depois. Coisas que só o esporte é capaz de proporcionar para o corpo, a alma e a mente.
- A natação me dá mais vontade de viver, é a minha terapia! Me traz muita alegria. Amo a água, o mar, o céu, o sol, as piscinas e os amigos! Já imaginou minha vida sem isso?
Com a colaboração do jornalista Marcello Carrapito, diretor esportivo da AMNRJ (Associação Máster de Natação do Rio de Janeiro), profissional de educação física e atleta máster.
Fonte: Eu Atleta - G1