Qual o segredo das pessoas que continuam ativas, cheias de energia e planos durante a velhice?
Por Mariza Tavares - Longevidade: Modo de Usar - G1
Se dermos uma olhada nas pessoas acima dos 65 anos à nossa volta, veremos que algumas já enfrentam dificuldades típicas do envelhecimento, mas outras continuam ativas, cheias de energia e planos. Por que envelhecer é uma experiência que varia tanto de um para outro? O termo superager foi criado pelo neurologista Marsel Mesulam e não tem uma tradução para o português. Junta a ideia do super, acima da média, com idade (age), para descrever um grupo que parece não sentir o tempo passar. Qual o segredo?
Lisa Feldman Barrett, professora de psicologia na Northeastern University, escreveu artigo para o jornal “The New York Times” sobre pesquisa da qual participou no Massachusetts General Hospital: os cientistas compararam os cérebros de 17 superagers com os de pessoas comuns da mesma faixa etária através de ressonância magnética. Havia diferenças em determinadas regiões do cérebro, mas, contrariamente ao que a maioria poderia supor, elas não estavam na área conhecida como da cognição, e sim na área da emoção! A professora explica que a tese, criada nos anos de 1940, de que nosso cérebro teria três camadas – uma herdada dos repteis, voltada para a sobrevivência; a segunda das emoções, herança dos mamíferos; e uma terceira, racional e unicamente humana – ainda é popular, mas já foi descartada de vez:
“O cérebro humano não funciona como uma rocha sedimentária, ele se reorganiza e se expande. As áreas emocionais funcionam como uma rede de comunicação e estão relacionadas, por exemplo, à linguagem, ao estresse e à regulação interna dos órgãos. Agora os pesquisadores demonstraram que essas áreas são hubs (hub é um concentrador, um dispositivo com função de fazer ligações, por isso um aeroporto é conhecido como hub quando dali partem diversas conexões) com um papel primordial”.
Quanto mais intactas são essas regiões do córtex, melhor o desempenho do superager. Haveria uma receita mágica para preservar o cérebro? Isso ainda está em estudo, mas uma coisa já é certa para os cientistas: a atividade cerebral aumenta quando há um esforço extra, físico ou mental. O interessante é que qualquer tarefa que vá requerer esse empenho – uma corrida ou resolver um problema de matemática – exigirá muito e deixará a pessoa até exaurida. No entanto, os estudos mostram que, em troca, há ganhos de memória e atenção. Portanto, vai ser preciso ir além de palavras cruzadas ou uma mera volta no quarteirão.
O francês Robert Marchand é um superager que vem sendo acompanhado por pesquisadores: aos 105 anos, é ciclista amador e seu condicionamento físico é melhor que o da maioria dos que estão na faixa dos 50. Vem batendo recordes que tiveram que ser criados, uma vez que categorias como “acima dos 100 anos” não existiam antes dos seus feitos. Marchand começou a pedalar quase diariamente depois da aposentadoria, porque, nos anos em que trabalhou como motorista de caminhão, jardineiro e bombeiro, não tinha tempo para isso. Ed Simons não é nada atlético, mas também um exemplo de superager: aos 100 anos completados no começo de fevereiro, ainda toca e dá aulas de violino. É o maestro da Orquestra Sinfônica de Rockland, no estado de Nova York, que fundou em 1952. Somente ano passado deixou de dirigir, embora sua licença de motorista não tenha expirado, e vive numa comunidade que ajudou a criar na década de 1950. E agora? Já pensou que “esforço” você pretende abraçar: começar a correr ou pedalar, aprender um instrumento, uma nova língua?
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