“O segredo é amar o que você faz, com seriedade e dedicação. Aí não tem fim, vai até Deus querer” – Laura Cardoso
A atriz Laura Cardoso, completou 90 anos, no dia 13 de setembro (2017), 75 de carreira, a veterana não gosta de ser tratada por “dona” nem “senhora”. Esbanjando vitalidade, é umas das atrizes mais produtivas de sua geração. Nesta entrevista, a paulistana Laurinda de Jesus Cardoso Baleroni repassa sua história pessoal e sua trajetória artística com orgulho, mas sem saudosismos: “Estou sempre de olho no futuro”.
Entrevista concedida à Naiara Andrade, do jornal O Globo, a seguir os principais trechos:
Vai haver uma grande festa pelos seus 90 anos?
(Risos) Só um jantarzinho em família… Não sou tão festeira, mas gosto de celebrar. Um bolinho não pode faltar! É interessante chegar os 90 cercada de quem eu gosto, com saúde e ativa. Amo muito e respeito o meu ofício. Nunca sinto cansaço para trabalhar! É claro que não tenho a força muscular dos 30, 40, 50 anos. Mas ainda me sinto bem. E muito, muito contente por estar trabalhando.
Tem cuidados especiais com a alimentação? Costuma se exercitar?
Eu sou indisciplinada, viu? Gosto muito de andar, conhecer os lugares a pé. Mas não sigo dieta alguma. Como o que eu gosto, quando eu quero. Graças a Deus, não tenho diabetes nem pressão alta, minha genética portuguesa é muito boa! Agora, sou louca por doces, chocolate! Como muito e depois passo mal. E nunca fui de beber, meu corpo não aceita bem. Só de vez em quando é que eu tomo meia taça de vinho branco.
Você é uma das poucas atrizes de sua geração que não passaram por cirurgias plásticas, certo?
Tinha uma colega que dizia que minha autoestima era grande, porque eu sempre confiei na minha cara do jeito que estava (risos). Não tenho problema algum com minhas rugas. Meu rosto reflete a minha vida, a minha alma, o que amei, o que sofri… Eu me gosto assim.
Considera-se uma mulher bonita?
Olha, gosto mais de ser chamada de inteligente que de bonitinha. Eu diria que sou charmosa… Prefiro que enxerguem minha beleza interior.
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Gosta do termo “melhor idade” para definir a velhice?
As pessoas tratam o idoso como se ele fosse um robozinho. É um tal de “senta aí”, “come isso”, “faz aquilo”… Nunca fui vítima de grosserias, as pessoas se dirigem a mim com carinho e respeito. Mas não tem essa de “melhor idade”, não! De melhor, a essa altura do campeonato, só a experiência adquirida. Eu amo a juventude, a mocidade! Hoje, não tenho mais a força muscular e a pele bonita de anos atrás. É muito diferente! Acho que é o jeito com que você leva a vida que faz a idade ser melhor ou pior, seja na velhice ou na mocidade.
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Desses 75 anos de carreira, o que foi mais emocionante?
O que eu mais amo é ser reconhecida pelo público, receber aplausos. Sinto que esse carinho é sincero. Acho que sou uma das atrizes mais premiadas do Brasil.
Teve alguma decepção?
É incrível, mas na minha carreira não houve tristezas. Só ficava cabisbaixa quando não era escalada. Sempre trabalhei continuamente. Quando estou descansando, quero logo voltar.
Aposentadoria, então, nem pensar?
Ah, não sou muito de férias nem de aposentadoria. Acho que, se você parar, morre alguma coisa por dentro. Trabalho é vida, faz a cabeça e o corpo funcionarem, o coração pulsar forte.
O que gosta de fazer quando não está trabalhando?
Gosto muito de ler, desde pequenininha. É um hábito que cultivei com meu amado pai. Leio dois, três livros ao mesmo tempo. Também adoro cinema. Mas tenho viajado bastante, ultimamente, para uma casa de campo que tenho aqui em São Paulo, entre Sorocaba e Itu.
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Você teme a solidão?
Ah, não acho nem um pouco bom, não. A gente tem que ter gente por perto para olhar, conversar, discutir, amar… O ser humano, definitivamente, não nasceu para ficar sozinho. Por um tempinho, pode até ser.
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Sempre teve personalidade forte?
Digo que sou feminista desde garotinha. Sempre fui à frente do meu tempo. Sou arrojada, corajosa, lutadora. Eu lutei pela minha carreira. Nem minha mãe queria que eu fosse atriz, e eu segui meu caminho como escolhi. Comecei com 15 para 16 anos, no rádio.
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Você viu o rádio perder espaço para a TV; agora, a TV vem sendo engolida pela internet. É o fim de mais uma era?
O rádio não morreu, tem programas fantásticos! A televisão também tem seu espaço garantido, assim como a internet. Eu, na realidade, não entendo nada de internet, não entra na minha cabeça. Não sei de rede social e nem quero aprender. E, nesse negócio de celular, só sei falar “alô” e “até logo”. Uso pouco.
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Você é saudosista? Gostaria de voltar no tempo para reviver alguma coisa que ficou para trás?
Minha vida foi boa, cheia de experiências… Teve altos e baixos, amores, desamores. Lembro de muita coisa com alegria, foi tudo muito bom na sua época. Mas estou sempre de olho no futuro.
Fonte: O Globo
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